Cresce cultivo de cânhamo na Alemanha
A Alemanha tem vivido uma verdadeira corrida agrícola do cânhamo – espécie de cannabis com baixo teor de THC – nos últimos tempos. Mesmo com fortes barreiras burocráticas, o país atingiu recentemente, segundo a Secretaria Federal de Agricultura e Alimentação, um recorde histórico, alcançando a marca de 7.000 hectares da planta cultivados pela indústria nacional.
Em números reais, estamos falando de 70 milhões de metros quadrados em terras plantadas, mas talvez mais importante que o total de campos, é o número de fazendas que cultivam a cultura. Nos últimos cinco anos, o aumento foi de 67%, passando de 300 áreas em 2017, para 889 em 2022.
Economia: aliada ou vilã?
Embora o crescimento do setor seja inegável, os desafios fundamentais permanecem, começando pela economia que, de acordo com Daniel Kruse, CEO da Hempro International em entrevista ao portal Hemp Today, “os níveis de preços ainda não compensam o suficiente para os agricultores”.
Para o empresário, há indicativos de que, a longo prazo, os cultivadores alemães eventualmente desistam do plantio, dada as burocracias encontradas e o atual momento econômico do país, que passa por dificuldades com alta inflação e piora do poder de compra dos consumidores.
Outro entrave que mantém a indústria travada são as leis antidrogas desatualizadas, que fazem com que a polícia invada lojas de cânhamo, bloqueiem a venda legal entre fronteiras de flores importadas e ordenem que alimentos à base da planta fiquem fora do mercado. “Os cultivadores continuam no caminho do sucesso apesar da arbitrariedade e opressão das autoridades”, disse Kruse.
Renascimento do cânhamo
O cânhamo ressurgiu pela primeira vez na Alemanha na década de 1990, com campos atingindo rapidamente 4.000 hectares em 1999. Os produtores concentraram-se principalmente no cultivo de alimentos e fibras à base de sementes da planta durante as duas primeiras décadas do século XXI. Isso deixou as empresas herdadas de cânhamo na Alemanha (e em outros lugares da UE) bem alavancadas e capazes de resistir ao boom e à queda do CBD, que atingiram o mercado a partir de 2019. Embora o ganho inesperado do CBD tenha durado pouco, muitas empresas de cânhamo já têm negócios, cadeias de suprimentos estabelecidas e produtos comprovados no mercado para recorrer.
No entanto, a longo prazo, os agricultores podem achar a economia insuficiente se não planejarem suas operações de cânhamo para saídas duplas: flores para extração de CBD e folhas para chá de cânhamo, ou flores e fibras, alertou Kruse.
Qual o lado bom da história?
Provavelmente, o cânhamo continuará sendo uma cultura de nicho na Alemanha nos próximos anos. O cultivo de trigo por lá, por exemplo, é de apenas 1.200 hectares e, quando comparado com o de cânhamo (7.000 hectares) fica muito atrás. Segundo Kruse: “apesar dos obstáculos, são positivas as perspectivas para o país, especialmente no contexto do potencial do cânhamo em meio a crescente preocupação com o meio ambiente e as tentativas da União Europeia de lidar com as mudanças climáticas”.