Intervir com o Exército ou legalizar as drogas?

O governo brasileiro insiste em ignorar que a melhor política pública para diminuir a violência é legalizar o comércio de drogas.

Moro em São Paulo e trabalho, boa parte do tempo, no Rio de Janeiro. Fico em Botafogo. Após dar aula, ler e escrever, saio para jantar e chego ao apartamento por volta de 22h, 23h. É uma rua de barzinhos. Há até uma “drinkeria”, o que quer que isso seja. Poucas foram as vezes que não encontrei alguém fumando maconha na calçada.

Não vejo problema nessa atividade em si. Maconha é muito menos lesiva do que álcool, cocaína, crack… Não há comparação. Mas a comercialização de maconha (e outras drogas) é ilegal. Os ricos da zona sul carioca que fumam estão cometendo crimes e, assim, estimulando o tráfico e a violência. As histórias de balas perdidas, assaltos, tiroteios entre traficantes, violência policial e corrupção lhes afetam indiretamente. O prazer de fumar compensa a culpa pelas mortes causadas.

Felizmente, há uma solução capitaneada por três economistas com Premio Nobel, entre tantas outras pessoas: legalizar o comércio de drogas. O economista Marcos Fernandes (FGV-SP) analisa, em um texto na Folha de S. Paulo e outro no JOTA, por que essa seria uma boa opção para o Brasil. (Renata Kotscho Velloso também tem ótima contribuição nesse sentido.) Nosso atual ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra (MDB), discorda. O ministro enxerga a questão das drogas como unidimensional, para usar um termo técnico. Combater as drogas e a violência a elas associada seria tarefa para políticas de punição e repressão. Prevenir e tratar dependência química como problema social, multidimensional? Coisa de ideólogos.

Mesmo que a intervenção militar na segurança do Rio de Janeiro seja espetacularmente bem-sucedida, terá sido eficaz como Novalgina para febre. Já se conhece a política pública que funcionaria melhor para diminuir a violência e a dependência de usuários de drogas. Há uma solução à vista para a causa do problema, não só os sintomas.

Falta convencer a maioria dos políticos.

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