‘Para que servem os estudos? Nada?’, pergunta Elisaldo Carlini
RIO — Com raízes na II Conferência Internacional do Ópio em 1924, ocasião em que a droga foi declarada “mais perigosa que o ópio”, a proibição da maconha se mantém na esteira de uma displicência por parte de autoridades com trabalhos científicos já realizados que comprovam o benefício medicinal de substâncias extraídas da planta, como criticou Elisaldo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas (Cebrid).
— Não estamos usando de maneira eficaz o poder da população para pressionar o Estado — afirmou o professor da Unifesp no segundo dia do “Seminário Internacional Maconha: Usos, políticas e interfaces com a saúde”. — Não é para o Brasil estar desse jeito. Para que servem os estudos? Nada?
Apesar de comemorarem os avanços da Anvisa, com a liberação do uso de derivado da maconha, o canabidiol (CBD), como medicamento neste ano, especialistas propõem que ainda deve haver um longo caminho a ser percorrido para que a sociedade possa se beneficiar de seus efeitos positivos, desestigmatizando a droga. A substância auxilia no tratamento de enfermidades como a epilepsia grave, conforme literatura científica.
— O uso de maconha medicinal só existe por causa do uso recreativo — disse João Lacerda de Menezes, doutor em biofísica e professor da UFRJ. — O autocultivo deverá ser permitido para que haja a liberdade do uso da planta. É necessário ainda a promoção de treinamentos e educação sobre seu uso medicinal nas escolas médicas.
Também presente na ocasião, Sidarta Ribeiro, neurocientista e professor da UFRN, acredita que, no futuro, o cannabis pode deixar de ser proibido para se tornar “uma das drogas mais importantes para o tratamento de doenças”.
— A gente já sabe que vai legalizar, resta saber como. A proibição é a droga mais pesada.