7 perguntas comuns sobre cannabis medicinal

O interesse pelo tratamento à base de cannabis medicinal tem aumentado exponencialmente a cada ano. Segundo dados recentes da associação de empresas especializadas no desenvolvimento, produção e distribuição de insumos e produtos à base de canabinoides (BRCANN), a comercialização nas farmácias cresceu ainda mais, avançando impressionantes 304% no ano passado.

A procura por produtos medicinais de cannabis também teve um aumento significativo, com 79.995 novas autorizações para importação registradas, um crescimento de 99% em relação ao ano anterior.

Esse aumento expressivo no consumo e na pesquisa da cannabis como tratamento medicinal indica uma tendência que deve se manter acelerada. Os componentes da cannabis, conhecidos como canabinoides, demonstram um potencial medicinal poderoso, como explica a médica Amanda Medeiros, da Clínica Gravital.

“Embora a cannabis medicinal apresente inúmeros benefícios para a saúde e bem-estar dos pacientes, ainda há muitas dúvidas e desinformação sobre o assunto. Por isso, é essencial esclarecer algumas questões”.

 

Afinal, cannabis é a mesma coisa que maconha?

 

A Cannabis sativa L. é o nome científico da maconha, ou seja, são a mesma coisa. Entretanto, para se referir à aplicação terapêutica dos componentes extraídos da planta, o termo que vem sendo empregado é cannabis medicinal.

“A planta cannabis sativa é composta por mais de 500 compostos químicos, incluindo THC e CBD, que são os canabinoides mais abundantes e estudados em humanos. Os canabinoides têm características próprias e efeitos terapêuticos específicos”, explica André Cavallini, médico com amplo conhecimento sobre o uso medicinal da planta.

 

Qual é a diferença entre CBD e THC?

 

A cannabis possui mais de 100 canabinoides já identificados e encontrados nas flores, folhas e caule da planta. Dentre esses, os mais conhecidos são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).

“O THC é a substância que ‘dá barato’, mas isso só vai acontecer quando há uma grande concentração dessa substância. No uso medicinal, o THC não é utilizado com esse objetivo e conta com benefícios significativos, pois tem a capacidade de oferecer relaxamento, aumento de apetite, alívio de dores, etc.”, explica Amanda.

 

As leis brasileiras autorizam o uso da cannabis medicinal?

 

A Anvisa autorizou o uso terapêutico de cannabis medicinal em maio de 2015, por meio da RDC 17/2015. Essa resolução permitiu ao paciente importar o produto mediante autorização expressa da Anvisa e receita médica. Posteriormente, a RDC 327/2019 regulamentou inclusive a venda de produtos à base de cannabis em farmácias brasileiras. Mas, a oferta ainda é limitada e cara.

Com a escassez de produtos no Brasil, a solução para os pacientes, muitas das vezes, é a importação. Apesar das simplificações, esse é um processo que costuma levar 30 dias desde a data da consulta até a data do recebimento do produto.

“Uma vez que você passe por uma consulta médica, tenha a receita e esse produto seja autorizado pela Anvisa, você vai entrar no portal do Governo Federal, preencher o formulário e anexar documentos, como o de identificação e a receita médica. Se o médico prescritor for habilitado e os documentos e dados estiverem todos corretos, você receberá sua autorização de imediato”, afirma Amanda.

 

De que forma é administrada a cannabis no tratamento?

 

Os óleos são a forma mais comum de administração da cannabis medicinal, mas dia a dia as pesquisas e estudos avançam e novas práticas surgem. A composição do óleo pode variar de acordo com a concentração dos canabinoides, como por exemplo:

  • Óleos com CBD isolado (puro), rico em CBD com até 0,3% de THC;
  • Óleos balanceados com concentrações de metade de CBD e a outra metade de THC;
  • Ou até mesmo óleos ricos em THC.

Há também óleos ricos em outros canabinoides e a prescrição vai depender do diagnóstico do paciente. No caso de produtos importados, há diversas outras formas de administração, já que eles são fabricados em cápsulas gelatinosas, gomas, sprays, tinturas, pastilhas, supositórios, cremes e pomadas.

“É muito importante o acompanhamento de um médico na prescrição do tratamento e ao longo dele para analisar a evolução do caso e para que se debatam novas formas de uso e até novos produtos com canabinoides”, diz a médica.

 

Como a cannabis age no organismo?

 

Todos os seres humanos têm um sistema endocanabinoide. O médico André Cavallini explica que endocanabinoides são neurotransmissores à base de gordura que o corpo produz, responsáveis por uma variedade de funções corporais, incluindo a modulação da inflamação, função do sistema imunológico e neurotransmissores.

“Os canabinoides encontrados na planta de cannabis, incluindo THC e CBD, podem ativar o sistema endocanabinoide no corpo e ajudam a resolver dores crônicas, enxaquecas, dores abdominais, inchaço e outros problemas”, diz.

 

Quais os benefícios da cannabis em relação a outras medicações?

 

Em comparação às alopatias convencionais, a cannabis medicinal possui a vantagem de ter menos efeitos colaterais, além de não haver risco de overdose ou problemas hepáticos por sobrecarga do fígado.

“É necessário entendermos que os produtos criados para uso terapêutico contam com uma série de procedimentos que visam garantir a qualidade de vida dos pacientes. São produtos naturais, que contam com processos de testagens seguros e que oferecem uma solução economicamente mais viável e mais saudável do que produtos sintéticos”, explica a médica Amanda.

 

Em quais condições é possível utilizar o tratamento com cannabis medicinal?

 

Algumas delas são: anorexia, ansiedade, autismo, câncer, náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, dor crônica, depressão, distonia, epilepsia, síndromes intestinais, fibromialgia, enxaquecas, dores neuropáticas, dependência de opióides, cuidado paliativo, doenças, neurodegenerativas, polimialgia reumática, neuropatia pós-AVC, TEPT, radiculopatias, artrite reumatoide, espasticidade de condições neurológicas e tremores.

“É importante entender que a cannabis medicinal não é uma panaceia e nem a cura para todo mal. Tudo vai depender de cada caso. Em algumas situações, os medicamentos à base de cannabis são associados ao tratamento alopático convencional, com o objetivo de trazer mais qualidade de vida ao paciente. Em outras, conseguimos fazer o desmame e, com o tempo, até mesmo a suspensão dos remédios tradicionais. Isso varia caso a caso e cada pessoa deve ser avaliada e acompanhada de perto por seu médico”, finaliza Amanda.

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