Uso medicinal da cannabis é o mercado que mais cresce no país
Nos últimos anos, principalmente durante e pós pandemia, a busca pelo tratamento com cannabis cresceu de forma exponencial no país. Em março de 2023, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), registrou um aumento de quase 100% nos pedidos de importação de produtos à base da planta comparado a 2021.
Essas constatações foram apresentadas durante o 2º Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal que aconteceu no Expo Center Norte SP, nos dias 4 e 5 de maio. Evento promovido pela Sechat e que vem se destacando como um dos mais importantes encontros do setor.
A médica e empresária Paula Dall Stella, que conheceu a medicina canabinoide há cerca de 10 anos, vem acompanhando essa ascensão e trouxe uma leitura de dados durante sua palestra no Congresso.
“Existem dois pontos que colocam o uso medicinal como carro chefe. Os consumidores que se identificam com o uso adulto, na verdade, fazem uso medicinal, pois estamos falando da mesma planta. Portanto, esses dois nichos, medicinal e recreativo, somam-se ao universo medicinal. Além disso, o nosso estilo de vida contemporâneo nos acomete a uma série de doenças crônicas que, provavelmente, vão se manifestar em algum momento e a cannabis se aplica para muitas delas por causa de seus efeitos no combate ao estresse, entre outros”, traduz a médica.
Para quem deseja de alguma forma entrar nesse mercado um dos aspectos mais importantes, seja para investir na área medicinal ou em outras frentes da indústria, é entender sobre a planta e, principalmente, cobrar dos órgãos responsáveis segurança jurídica, pois, com o desenvolvimento desse setor na América Latina, muitos investidores preferem apostar nos países vizinhos, onde já existe regulamentação.
“A falta de uma regulamentação na indústria incide em vários riscos para o investidor. Hoje temos uma série de startups acreditando nesse mercado, oferecendo produtos e soluções inteligentes, mas que precisam de dinheiro. Para um investidor fazer um aporte ele precisa de segurança, de regulamentação e a falta disso pode levar esse dinheiro para fora e não para nosso país, que tem um potencial gigante”, argumenta Felipe Paiva, executivo de câmbio na Abrão Filho Banking
Tendências de mercado
- Educação Canábica
Mesmo sendo o braço da indústria da cannabis que mais cresce no Brasil, existem algumas brechas no mercado medicinal que ainda precisam ser exploradas. Entre elas, a formação de profissionais da saúde que saibam aplicar e acompanhar a terapia canabinoide, portanto, investir em cursos que ensinem a endocanabinologia é urgente.
Para acompanhar essa tendência do mercado medicinal, é preciso que os órgãos regulatórios, os conselhos públicos, conselhos de medicina e os três poderes (executivo, judiciário e legislativo) se qualifiquem para compreender a terapia e criar leis e resoluções que facilitem o acesso ao tratamento, aos produtos e o exercício dos profissionais de saúde.
- Biotecnologia e criação de novos produtos
Pensar em novas formas de administração de uso da cannabis, principalmente considerando as formas de absorção dos medicamentos, é uma grande aposta para o mercado farmacêutico, porque com inovação e pesquisa científica é possível desenvolver produtos que melhoram o tratamento e a vida do paciente.
Criar uma relação entre as universidades, empresas e órgãos regulatórios é um caminho importante para avançar nesse processo e que confere segurança e qualidade para usuários e profissionais.
- Aplicativos de monitoramento
Acompanhar a jornada do paciente em tempo real é um dos desafios da parte clínica do uso da cannabis medicinal, por isso, investir na criação de aplicativos que facilitem o usuário a
descrever seu diário de tratamento é um potencial desse mercado de tecnologia.
Para o setor de cultivo, conseguir medir e acompanhar o desenvolvimento da semente, condição de solo, clima, umidade e crescimento das plantas até a colheita, é uma necessidade que pode ser atendida pela criação de aplicativos.
- Cannabis como alimento
Criar regulamentações que definem o que é medicamento e o que é alimento nesse mercado é fundamental, já que essa planta possibilita a criação de diversos produtos, entre eles alimentos que são derivados de suas sementes .
A semente de cânhamo está na lista dos superalimentos e não apresenta efeito psicoativo. Contém ácidos graxos essenciais, como o ômega, excelente fonte de fibras e proteínas. Muitas empresas em todo o mundo estão investindo no desenvolvimento de alimentos a partir do cânhamos, como suplementos, azeites e farinhas.
Uma vez que a regulamentação aconteça no Brasil muitas empresas do setor de alimentos serão diretamente beneficiadas, pois terão condições de explorarem esse mercado.
- Indústria de cosméticos
Tanto o óleo de semente de cânhamo com os terpenos e os canabinóides da planta já estão sendo usados pelas empresas de cosméticos, fora do Brasil. É muito comum encontrar linhas de produtos com derivados da planta fora do Brasil.
No país esse nicho ainda não está regulamentado, mas com certeza é uma forte tendência de consumo. Quando as leis e resoluções certificarem os produtos e abrirem as portas desse mercado, o crescimento é certo.
- Cultivo da planta e produção de matéria prima
O Brasil se destaca como um dos países com maior potencial para cultivo de cannabis no mundo, seja pelo clima ou pela extensão territorial, mas existe a carência de agrônomos especialistas no assunto..
Por outro lado, são muitos cultivadores espalhados pelo país que, de forma ilegal, foram se tornando grandes expertso. Dentro do cenário da cannabis, são conhecidos como jardineiros e foram responsáveis por transmitir esse conhecimento para as associações plantarem e produzirem os produtos derivados da planta.
Uma vez que o cultivo seja regulamentado, é importante valorizar o conhecimento desses jardineiros para as pesquisas de inovação no que diz respeito a técnicas de cultivo, extração e melhoramento genético.
Seja como exportador da cannabis enquanto commodity ou na criação da matéria prima para a indústria como um todo, o Brasil tem condições ideais de alcançar a soberania nacional.