Por que a descriminalização da maconha deve ser discutida em 2023
Jerdean Nogueira, 30 anos, também chamado de Jota, criou afinidade com a maconha, após passar um ano e seis meses privado de liberdade por uma injustiça penal em 2011. Após perceber como o sistema criou a criminalidade, Jerdean superou a adversidade, indo para um universo totalmente diferente de privação de liberdade, para ajudar pessoas a serem legalizadas.
O ativista que participou da primeira marcha da maconha, em Natal (RN) de 2011, conta que o nível de repressão foi assustador, mesmo que tenha ocorrido dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte..
“Fizemos a marcha em uma feira universitária, esse singelo evento fez com que houvesse a escolta de um helicóptero da polícia”, disse Jerdean.
Atualmente, ele vê um espaço para dialogar com as pessoas, pois agora há mais liberdade para falar sobre cannabis. De acordo com Nogueira, as injustiças sociais que diversas pessoas sofreram, sensibilizaram sobre a importância do tema e assim, ultrapassar a barreira judicial. No entanto, hoje, ainda existem demandas, como opreço e o cultivo.
Com a chegada do novo governo, ele diz que há expectativas. “Acende uma chama de esperança sobre a visão da cannabis no Brasil e também pelo fato de vários países legalizarem a planta para a população, colhendo os benefícios de ter isso em casa”.
Em dezembro do ano passado, o ativista conheceu a Pangaia (empresa multinacional estadunidense que atua no comércio nacional de produtos à base de cannabis) durante o festival de música “Universo Paralello. “Hoje em dia, eu trabalho diretamente com a maconha medicinal por meio da Pangaia, tornando pacientes legais no Brasil e evitando sanções penais” comentou o ativista.
Jerdean afirma que um dos seus grandes objetivos é a luta pela legalização, apesar do retrocesso no país. Para ele, é somente uma planta com diversos benefícios e que não tem justificativa para banalizar o acesso e prejudicar a democratização da medicina.
O acesso da cannabis para o ativista é fomentado pela informação, segundo ele, muitas pessoas fazem o uso ilegal da planta e não conhecem os seus benefícios,.
“Considerar alguém criminoso porque não entende o suficiente sobre a finalidade da planta, pode fazer suscitar opiniões erradas sobre a maconha. Na prática, a nossa política é muita repressiva e sem conhecimento ocorre a prisão por tráfico”.
A mãe do ativista tinha uma visão da maconha por programas policiais e só identificava os “malefícios”. Quando Jota lhe apresentou uma flor de maconha, houve a compreensão de que se tratava de uma planta de verdade e não tabletes prensados de má qualidade.
Conforme Jerdean, atualmente possuem um canal de comunicação que até atua com a mudança da opinião pré-concebida sobre a planta e apresentam para essas pessoas o uso medicinal da cannabis com um salvo-conduto. Além disso, ajudam com consultas médicas para que possam utilizar produtos receitados pelos médicos para tratamento das mais diversas enfermidades..
A vida após o cárcere
Jerdean comenta que foi vítima de leis proibicionistas por erro profissional e acabou sendo preso por tráfico de drogas. “Eles não enxergam o que é passar um ano e seis meses privado de liberdade, isso destruiu uma parte da minha vida. A forma como o sistema é construído me mostrou como é a criminalidade”.
Passou um ano e seis meses, após ter sua pena revista pelo Supremo Tribunal Federal, que antes seria de oito anos. O processo foi extinto, pelo STF, por falta de provas,é pelo entendimento de equívoco judicial, na esfera do estado. Após sair do regime fechado, entrou em depressão e alto nível de ansiedade, um tempo depois iniciou o tratamento com óleo de CBD (canabidiol), flores e gummies em dispensa de remédios controlados.
Quando retomou a liberdade passou a usar diversos remédios para controlar as crises de pânico, mas que isso criava um círculo vicioso com tais medicamentos.
“Eu saí tomando quatro tipos de remédios diferentes para controlar minha mente, minha ansiedade e minhas crises de pânico. Eu não conseguia pegar um ônibus, eu não conseguia sair de casa” afirmou.
Transformando vidas
Ser embaixador da Pangaia é um grande orgulho para Nogueira. O seu trabalho é fazer a ponte judicial no mercado brasileiro com produtos à base de cannabis, o que permite serem importados e chegarem no domicílio dos pacientes produtos certificados como óleos medicinais, flores, cápsulas, cremes e gummies.
Jerdean ajuda o paciente no passo a passo, desde a organização dos documentos até a autorização da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) para possibilitar a importação dos medicamentos de maneira legal, prescritos pelos médicos.
“Eu legalizo aproximadamente 30 pessoas, isso para mim é uma grande vitória, dando um passo de cada vez, porque quero difundir a informação e abrir a mente para o que está acontecendo nesse universo”, reforça o ativista.
Quando conheceu a empresa de produtos à base de cannabis, percebeu o grande poder que é a informação com responsabilidade para ajudar outras pessoas.
“ A informação foi muito importante e não sabia que era possível importar com tanta facilidade a maconha para o Brasil, visto que ainda é um tabu para muitas pessoas” afirmou.
O ativista diz que a luta pela planta desde 2011 está dando resultados. Recentemente, a sua avó, que tinha uma visão totalmente radicalizada da planta, aceitou fazer o tratamento com óleo de CBD e THC isa para dores crônicas e problemas ósseos C.
“Comecei a minha luta em 2011 e hoje estou vendo minha avó de 73 anos fazendo tratamento. Isso para mim é muito interessante e mágico e vê-la colhendo os bons resultados disso é mais fantástico ainda” ponderou Jerdean.
A liberdade do “Full spectrum”
Como um admirador da planta, ele diz que não são as pessoas que precisam se adaptar, mas, sim, a legislação que precisa conhecer a realidade de cada um e suas nuances.
“O CBD foi muito demonizado e hoje isso está acontecendo com o THC por conta dos seus efeitos psicoativos, mas os estudos mostram o quanto a substância é essencial no tratamento de diversas doenças”, disse o ativista.
Para ele, a planta é medicinal desde o seu princípio. O intuito pode mudar, mas a burocracia do governo sobre a maconha ainda limita a utilização..
“Para mim não tem essa de ficar pedindo ao governo para usar algo que é benéfico para nós. A planta precisa ser vista inocentemente or”, finaliza Jerdean.