Cannabis para estudar: ajuda ou atrapalha
Tradicionalmente, o uso da cannabis para estudar não é bem aceito, pois teria efeitos negativos na memória, o que pode levar a resultados acadêmicos ruins. No entanto, para algumas pessoas, esta afirmação não é verdadeira, muitas até encontram na planta uma ajuda extra para o aumento da concentração.
De acordo com Bruno Hojo, médico neurologista, o temor do uso do canabidiol está muito relacionado a um preconceito gerado ao uso da planta e indica que, nos estudos que avaliam a segurança do medicamento, nunca foram demonstradas alterações cognitivas por parte de pacientes.
Quais são as evidências?
A cannabis medicinal contém várias apresentações e, uma das versões mais utilizadas é o canabidiol puro, combinando CDB e THC, são a partir deles que muitas vezes o paciente apresenta alguma melhora no seu quadro. Para epilepsia refratária, o tratamento com cannabis é tido como umas das melhores terapias para a diminuição de convulsões, nestes casos utiliza-se grandes concentrações de canabidiol e nunca foi apontado alterações cognitivas relacionadas ao medicamento, como explica o Dr. Hojo.
O tema pode parecer controverso para quem não está familiarizado com a questão. Há uma amostra que o consumo de cannabis pode causar uma deterioração cognitiva transitiva, que varia de um consumidor para outro. Isso geralmente é causado em curto prazo, embora não afete a memória de longo prazo.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Bonn afirma que o THC pode retardar o envelhecimento do cérebro. Em cérebros adultos, melhora certas atividades cognitivas. No entanto, o cérebro adolescente continua a se desenvolver até, em média, 21 anos e durante esse estágio, o desenvolvimento pode ser afetado negativamente pela exposição à cannabis.
Acredita-se que a cannabis medicinal pode ter um efeito neuroprotetor, por reduzir o estresse oxidativo, isto é, reduz a morte neuronal. Com estudos em andamento no tratamento de Parkinson e Alzheimer que são duas doenças neurodegenerativas as evidências de melhora tem surtido efeito, por relacionar justamente com o retardamento do processo de envelhecimento cerebral.
Quais as tipologias e efeitos?
A carga psicoativa do CBD é muito menor quando comparada ao THC. O primeiro é eficaz para melhorar o humor e o sono em pacientes com estresse pós-traumático ou epilepsia. No entanto, cada organismo responde diferente aos efeitos da cannabis. De maneira geral o que pode ser concluído é um menor efeito colateral ao consumir cepas mais ricas em CBD, principalmente.
A tipologia Indica da planta tem um potencial maior na sedação do usuário, já a Sativa tem um potencial estimulante e favorece a criatividade e a realização de tarefas que exigem uma busca intensa de ideias.
De acordo com o Dr. Hojo, a maior parte dos estudos com cannabis são embasados na molécula pura. As queixas mencionadas por algumas pessoas necessitam ser diferenciadas de paciente e usuário, os efeitos sentidos são distintos quando usados de forma recreativa/medicinal já que a cannabis medicinal vem de uma espécie diferente, que é a planta de cânhamo. “Sempre quando pensamos em efeitos colaterais, em qualquer medicamento, temos que tomar cuidado e avaliar o perfil de cada pessoa e de qual forma ela está utilizando a medicação’’.
Uma investigação da Universidade do Texas concluiu que a maconha é capaz de aumentar o número de conexões neurais em nosso cérebro. Para demonstrar isso, o estudo colocou uma amostra com 48 adultos usuários de maconha entre 20 e 36 anos e os compararam com um grupo de não fumantes com características semelhantes. Depois de fazer imagens cerebrais dos sujeitos, por meio de ressonância magnética, as imagens dos cérebros dos usuários de THC mostraram um aumento em sua condutividade geral. Isso pode trazer melhorias nos resultados ao estudar ou realizar atividades que exijam muita concentração.
Em grande parte os efeitos provocados nos indivíduos estão sujeitos a como as diferentes cepas de cannabis afetam o organismo. Os níveis de THC podem ser um fator importante para determinar se a terapia canabinoide ajudará a pessoa, mas sempre lembrando que há significado e impacto distinto entre o uso recreativo e medicinal da cannabis sativa.