Paraíba terá a primeira ONG do Brasil especializada em Cannabis veterinária
A Cannabis veterinária está avançando no mercado da mesma forma que a medicinal no passado.
Mães e pais de pets –que sofrem de epilepsia e dores do câncer, entre outros males– buscam tratamentos disponíveis para aliviar o sofrimento dos filhos peludos, refratários aos medicamentos clássicos. Com a humanização dos bichos, eles recebem a mesma atenção e cuidado que uma criança.
A primeira resposta positiva do setor vem de João Pessoa, capital da Paraiba. Ali, está saindo do forno a Abracepet Esperança, uma organização não governamental voltada ao tratamento de animais com Cannabis. O idealizador é Cassiano Teixeira, que fundou há seis anos a Abrace Esperança, hoje uma associação modelo na produção do óleo e atendimento de pacientes sem recursos.
Teixeira contabiliza 170 donos de pets que já bateram na porta dele pedindo ajuda. Mas como a Abrace não tem um fim veterinário, ele resolveu montar a Abracepet, para em breve poder ajuda-los.
Regulação
Um dos grandes problemas do mercado é a falta de regulação, tanto para os medicamentos como para os veterinários. “O Conselho Regional de Veterinária da Paraíba não se pronuncia a respeito”, diz Teixeira. “Os veterinários prescrevem, porque dá resultado.”
O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) é o órgão regulador das substâncias administradas em animais. Não é a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) –como na Cannabis medicinal. No caso da veterinária, o Mapa não proíbe, mas não autoriza.
Em Florianópolis, o veterinário Erik Amazonas, professor e pesquisador canábico da Universidade Federal de Santa Catarina, conta que quando começou a prescrever, ele entrou em contato com o conselho veterinário da região. “Perguntei se eu estava cometendo algum crime. Não existe nada contra, qualquer substância pode ser usada, desde que o veterinário tenha conhecimento e estiver à disposição para uso medicinal”, explica Amazonas.
Ação nos animais
Segundo o veterinário, os cães têm mais receptores canábicos do que os homens. “Eles são mais sensíveis. Nos EUA, os veterinários usam CBD isolado, porém registram mais efeitos colaterais nos tratamentos, como tontura e letargia”, diz Amazonas, que prescreve o óleo full spectrum (com THC). “Meus pacientes não apresentam qualquer sintoma. Mas em alguns a Cannabis não faz efeito. Isso é normal, até para medicamentos clássicos.”
Amazonas trata os animais com óleo doado de associações. No Brasil, não tem como comprar óleo veterinário. Há muitos donos de pets, que acabam plantando em casa para tratar o filho de quatro patas. “Mesmo sem habeas corpus para isso. Eles arriscam.”
“Agora tem um Canabidiol medicinal nas farmácias, que pode ser uma opção para os pets”, diz o veterinário Fábio Mercante de San Juan, diretor da Câmara Científica da SBEC (Sociedade Brasileiras de Estudos da Cannabis). Ele se refere ao Canabidiol da Prati-Donaduzzi, lançado em abril, o primeiro nacional registrado pela Anvisa. O medicamento custa em média R$ 1.500 e é difícil de ser encontrado nas farmácias.
Ativista, Juan é fundador da Dr Pet Cannabis, em São Paulo, um centro de pesquisa, formação e tratamento. “Assim como os humanos, os animais se beneficiam com o tratamento de Cannabis em várias patologias. Até os invertebrados possuem sistema endocanabinóides”, diz ele. Mas os tratamentos são diferentes para cada espécie. A utilização da Cannabis é mais conhecida em gatos, cães, bovinos e equinos.
No Colorado e na Califórnia, os veterinários e tutores de animais usam a Cannabis no tratamento há mais de uma década. No Brasil, há cada vez mais veterinário canábicos. Dr Pet já formou 300 alunos. A clínica tem 200 pacientes ativos e já passaram por lá 500.