Laboratório de Toledo deve ser o primeiro a produzir e vender extrato de canabidiol no país
Um laboratório de Toledo, no oeste do Paraná, deve ser o primeiro a produzir e vender no país o extrato de canabidiol – substância extraída da maconha.
Em fase final de testes clínicos, a previsão dos pesquisadores é que o medicamento esteja disponível no mercado até o fim de 2018.
O extrato de canabidiol (CBD) tem efeito anticonvunsionante e é usado principalmente no tratamento de epilepsia em crianças. Atualmente, o produto precisa ser importado com a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
As pesquisas vêm sendo desenvolvidas em conjunto pelo laboratório farmacêutico Prati Donaduzzi e a Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto (SP) – primeiro centro de estudos do canabidiol no Brasil -, há três anos, quando foram importadas as primeiras plantas e iniciados os testes com a Cannabis sativa.
De acordo com o professor Jaime Hallak, da Faculdade de Medicina da USP, além de reduzir os custos com importação, a produção em laboratório promete garantir uma substância mais pura e completamente livre do THC, o princípio que causa o efeito psicoativo da maconha.
O presidente da Prati Donaduzzi, Eder Fernando Mafissonni, calcula que os estudos clínicos sejam concluídos ainda neste semestre.
“Somos o laboratório com os estudos mais avançados no mundo e queremos ser o primeiro a conseguir comprovar a eficácia terapêutica do canabidiol”, comentou.
O próximo passo será o registro e em seguida a comercialização.
Além da epilepsia, a esquizofrenia e o mal de Parkinson são as doenças com estudos mais avançados em relação ao uso do canabidiol feitos pelos pesquisadores da USP.
A parceria estuda também a produção em laboratório do canabidiol sintético, processo em que não há necessidade de se ter a Cannabis sativa em planta.
O extrato é obtido a partir da estrutura molecular, com técnicas de bioquímicas e farmacêuticas, por meio das quais se cria artificialmente moléculas com a mesma eficácia.
Neste caso, a expectativa é que o produto, mais barato, esteja no mercado em dois anos.
Benefícios
Ângela Schmitz importa o produto do Reino Unido para o filho Lucas, de 11 anos. O menino começou a ter convulsões aos quatro anos.
“Nós perdemos o chão e ele teve a mudança de uma vida normal de criança para uma vida sempre com alguém cuidando, atendendo, porque não dava para deixar ele sozinho”, conta.
Desde então, com até 30 crises epiléticas por dia, foram muitos tratamentos e medicamentos até chegar ao canabidiol.
“Ele chegou a tomar oito anticolvulsionantes. Depois que nós começamos com o canabidiol, as crises reduziram em mais de 80% e ele teve muito mais qualidade de vida. Agora ele pode fazer coisas de criança normal”, destaca Ângela.
Por mês, Lucas usa três vidros do medicamento. Cada um custa US$ 390, fora o custo do transporte.
O produto nacional deve tanto reduzir o custo como alguns transtornos ainda comuns no processo de importação, facilitando o acesso para quem precisa.
“Você não sabe se vai chegar no prazo que precisa, por isso tem que ter um estoque muito maior do que imagina que vai usar. Pode haver problema na saída do país que vende ou na entrada do país da pessoa que está comprando, problema de transporte ou de receber um produto danificado e ter dificuldade para reclamar”, aponta.
Ângela acredita ainda que o medicamento feito no país pode trazer mais tranquilidade também quanto à certeza da procedência e da qualidade do produto.